quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

As páginas em branco

Minha vida é como um livro. Bem simples: capa vermelha, páginas já meio amassadas.A única coisa que o diferencia de outro livro qualquer é aquela caneta desenhada na capa. É que eu gosto de canetas. Elas estão sempre disponíveis e são as melhores aliadas na hora de escrever uma história.
Claro, a história dentro do livro também é diferente das outras. É a única escrita por mim. Algumas pessoas contribuíram, e eu agradeço muito a elas. Mas revisão dos capítulos sempre foi feita por mim. No fim de tudo eu sempre estava sozinha, escrevendo a minha única história.
De repente, começou a ficar difícil. Ficar sozinha com a caneta no fim do dia se tornou insuportável. Talvez eu precise de alguém pra escrever essa história comigo.
Talvez eu precise de você no final do dia.

-Little Miss Sunshine
(na quarta, como prometido)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Os filhos deste mundo

Vejo anjos nas ruas
com asas roubadas
entre outras quebradas
que desaprenderam a voar

Na selva de concreto
reviram becos por alimento
infiel sustento
até mais um dia repousar

Assim vem a frensi
com choros e prantos
imaculados cantos
que passam sem me notar

Salgam as ruas
com gotas ardidas
escorrem por sarnas
cauterizam feridas

Decerto, profunda tormenta
brota das margens das ruas
sem que você perceba
que as próximas asas roubadas
serão as suas



                                                                                                                            -Liesel Meminger
  

                                                                                          


domingo, 10 de janeiro de 2010

De novo, o velho

Lá estava ela. Sentia as gotas baterem no seu rosto e escorrerem, se misturando com o resto da água que a enxarcava. Ela prestava atenção no seu corpo, o sangue pulsando, o contato com a grama macia, o cabelo grudado na testa. Apesar de todo o barulho da chuva, era como se não escutasse nada. Estava em paz. Em paz dentro de si. A água passava por ela e ia limpando sua mente e seu espírito. Afinal, ela compreendia. Seus medos, preocupações e angústias se esvaíam, acompanhadas pela pureza da chuva. 
Ela não conseguia parar de se perguntar como nunca tinha feito isso. Definitivamente essa era mais uma das suas resoluções de ano novo. Ela anotaria no seu caderno de capa preta assim que saísse dali. Precisava que essa sensação fosse mais presente na sua vida.
Subitamente, ela fez o que não fazia há muito tempo: riu sozinha. Riu de si mesmo, do esforço que fez pare se lembrar como sorrir. Riu de estar ali, sozinha, molhada e feliz. Riu do som que sua risada tinha, um barulho arranhado, desgastado pela falta de uso. Em suma, riu porque sentia falta da sensação.


-Little Miss Sunshine

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Para mim

"Porque pensaria que seria diferente? Diferente do óbvio, que algo além do ordinário poderia transcender a olho nú. E mais uma vez, passo pelo ridículo, a me abandonar sem me abandonar, me render sem me render... Eu quero, meu ser grita para o infinito ouvir que eu sei que quero, mas não compreendo como isso inclui você.
Ainda assim você não entende. Não entende o que eu escrevo, o que eu falo, ora pois, nunca será capaz de entender o que sou e hei de me tornar. Sei que espera a vida passar, junto com a sua perpétua incerteza, mas eu não posso esperar mais.  Há muito para ver e você ainda ai, no mesmo lugar. Seus pés fixos ao chão e olhos voltados para os céus, para as estrelas e a lua que você tanto contempla. Ainda assim, não vê que até os céus estão em constante mudança? Pobre ser, espero que encontre alguém que te conceda a verdadeira vida. Que por ela você deixe de amar a lua, um sonho levado pelas manhãs, e se esqueça da covardia que te atormenta."

Ela tentou escrever mais, mas tudo parecia ser dito para si mesma. Na falha tentativa de uma carta para ele, escreve uma carta de adeus para alguém que cansou de ser. Um ser humano ferido pelo tempo com cicatrizes que contariam histórias que só recordam ela dos tempos em que era capaz de amar.