domingo, 10 de janeiro de 2010

De novo, o velho

Lá estava ela. Sentia as gotas baterem no seu rosto e escorrerem, se misturando com o resto da água que a enxarcava. Ela prestava atenção no seu corpo, o sangue pulsando, o contato com a grama macia, o cabelo grudado na testa. Apesar de todo o barulho da chuva, era como se não escutasse nada. Estava em paz. Em paz dentro de si. A água passava por ela e ia limpando sua mente e seu espírito. Afinal, ela compreendia. Seus medos, preocupações e angústias se esvaíam, acompanhadas pela pureza da chuva. 
Ela não conseguia parar de se perguntar como nunca tinha feito isso. Definitivamente essa era mais uma das suas resoluções de ano novo. Ela anotaria no seu caderno de capa preta assim que saísse dali. Precisava que essa sensação fosse mais presente na sua vida.
Subitamente, ela fez o que não fazia há muito tempo: riu sozinha. Riu de si mesmo, do esforço que fez pare se lembrar como sorrir. Riu de estar ali, sozinha, molhada e feliz. Riu do som que sua risada tinha, um barulho arranhado, desgastado pela falta de uso. Em suma, riu porque sentia falta da sensação.


-Little Miss Sunshine